Esta semana me deparei com uma foto
de uma pessoa que eu amo muito, médica recém formada, residente em um hospital
do sudeste do país, realizando uma cirurgia, onde ela usava brincos e colar. Perguntei
o que eram aqueles adornos em pleno um centro cirúrgico, e recebi a resposta de
que “esta é uma regra que não se segue, felizmente ou infelizmente”.
Há quatro anos tive a oportunidade
de ter duas amigas médicas, uma alemã, e outra espanhola, morando na minha casa
por 4 meses. Elas conseguiram um estágio em um hospital público da cidade. Lembro-me
do quanto elas comentavam destes pequenos detalhes que elas observavam nos hospitais,
e o quanto elas ficavam pasmas e revoltadas com isso, principalmente porque os
demais profissionais achavam tudo normal. Antes deste período no Brasil, o país
ela para elas o país dos sonhos. Depois de 4 meses, virou o país para passar férias.
Aí sim, ele era perfeito.
Sou farmacêutica, consultora,
trabalho no ramo da indústria farmacêutica e temos de seguir inúmeras regras,
investir milhões em áreas, equipamentos, matérias-primas, embalagens, estudos
clínicos, treinamentos de profissionais, etc., tudo para provar à ANVISA que
estamos produzindo medicamentos com segurança e eficácia comprovada. Bonito
este termo... “Segurança e eficácia comprovada”...
Vamos a um hospital para visitar
alguém, e alguns hospitais impõem regras de poder não entrar com isso ou aquilo
para evitar contaminação. O objetivo é diminuir a infecção hospitalar. Perfeito!
Ao mesmo tempo, se formos às
cantinas, refeitórios, ou restaurantes nos arredores, principalmente dos
hospitais públicos e dos hospitais universitários (o que não exclui os
hospitais particulares), é comum nos depararmos com profissionais vestidos com
roupas de centros cirúrgicos, estetoscópios pendurados no pescoço, almoçando
tranquilamente.
Escutar de uma médica, residente
em cirurgia geral, que RETIRAR OS ADORNOS antes de entrar em um centro cirúrgico
NÃO É UMA REGRA QUE SE SEGUE, dói, decepciona, pois não é culpa dela ela ter
esta opinião. Ela é nova na profissão, é nossa esperança, mas já tem este ponto
de vista, o que quer dizer que os mais velhos ensinaram isto a ela, e a muitos
outros país a fora. E isto certamente não ocorre apenas com os médicos. Com
certeza temos enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, etc., que
trabalham nestes hospitais, e que possuem esta mesma opinião... Pois “esta não é
uma regra que se segue”.
Decepciona e dá medo, saber que,
no geral (graças a Deus tudo tem exceção, então, existem sim profissionais que “cumprem
estas regras”) estamos sujeitos a ser assistidos por estes tipos de
profissionais, e que a infecção hospitalar, nestes lugares, por mais que se
evitem e se trabalhem inúmeras campanhas, ela nunca será realmente reduzida,
pois os profissionais da casa parecem não fazer questão alguma de “seguir
regras”... Talvez seguir regras esteja fora de moda, não sei...
A ANVISA, que tanto exige dos
laboratórios e das indústrias, lança campanha para “higienização das mãos”... Como
se somente isto fosse resolver o problema da saúde pública e diminuir a
transmissão de doenças e, no caso do ambiente hospitalar, evitar a infecção
hospitalar...
Os hospitais possuem CCIH (Comissão
de Controle de Infecção Hospitalar). Onde está a CCIH no momento de uma
cirurgia, que não cobra um comportamento ético destes profissionais? Não
conheço o trabalho destas equipes, mas o meu lado esperançoso torce para que
estas CCIHs consigam exercer a sua função e ter sucesso nas suas ações.
As indústrias pagam grandes
multas se um laboratório público, nas suas rotinas, verifica que um medicamento
que no mercado está contaminado. Os hospitais não pagam multas porque seus médicos
operam usando relógios, colares, brincos, etc., transmitindo tantos outros
microrganismos.
É querido Brasil... Você tinha
tudo para ser o melhor país do mundo para se viver... Mas está zilhões de anos
luz atrás do que chamamos primeiro mundo. E tudo isso por que somos
extremamente fracos em um quesito básico: EDUCAÇÃO.